Testemunhos
1
Lissy e Stefan receberam vistos dados pelo cônsul no início da II Guerra Mundial. Mais famílias fizeram o percurso da fuga
É a primeira vez que Jeffrey e Laurence acompanham a mãe na viagem que os trouxe de Bordéus, em França, até Lisboa e já depois de terem parado em alguns dos locais mais marcantes para as famílias de sobreviventes e do cônsul Aristides de Sousa Mendes, o homem que concedeu milhares de vistos a judeus para que fugissem da Europa ocupada durante a II Guerra Mundial. Uma viagem para assinalar os 76 anos que passaram sobre essa data. Chamaram-lhe a viagem do caminho da liberdade.
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Família Lissy e Stefan
2
Inge era a única filha de Berthold e Regina Auerbacher, um casal judeu religioso que vivia em Kippenheim, um povoado no sudoeste da Alemanha, perto da Floresta Negra. Seu pai era um próspero comerciante no ramo do têxtil, e a família vivia confortavelmente numa mansão de dezessete divisões, com empregados para executar os serviços domésticos.
1933-39: Em 10 de novembro de 1938, os criminosos atiraram pedras e destruiram todas as janelas da nossa casa. Naquele mesmo dia a polícia levou o meu pai e o meu avô. A minha mãe, a minha avó, e eu conseguimos esconder-nos num galpão até que tudo estivesse mais calmo. Quando saímos do esconderijo soubemos que todos os homens judeus haviam sido levados para o campo de concentração de Dachau. Poucas semanas mais tarde, o meu pai e o meu avô conseguiram obter permissão para retornar, mas o coração do meu avô não resistiu e no mês de maio ele morreu, vítima de um ataque cardíaco.
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Inge Auerbacher
3
Sarah (Sheila)
Descreve as suas experiências enquanto criança que vivia escondida.
"Eu fiquei escondida naquela cabana por mais de dois anos. Nunca saí de lá. No inverno era muito frio e no verão era muito quente. Todos os dias, ele [o polícia católico polonês que as escondia] costumava trazer um pão grande e uma garrafa de água para nós. Muito raramente, em ocasiões especiais, ele podia trazer um pouco de sopa. Às vezes ele tinha que ir para outra cidade por um dia, por motivo de trabalho ou por alguma outra razão, e a sua mulher e a sua filha não nos davam nada. Nós passávamos fome até ele voltar. Minha mãe e eu vivíamos dentro daquela cabana. Algumas vezes, à noite, a minha mãe saía às escondida para limpar o urinol, mas eu nunca saía. Ela não deixava e, além disso, eu tinha medo. Nós não tínhamos nada para fazer. Eu não tinha nada com que brincar. Naquela época, eu tinha seis anos e costumava brincar com as galinhas e a palha que ficava no chão. Tinha muita palha no chão. Ele [o polícia] colocava um tipo de colchão, ou algo assim, num canto, e a minha mãe e eu dormíamos ali com alguns cobertores. Era naquele lugar que eu vivia.
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4
Thomas Buergenthal
Descreve um dos campos de trabalho escravo em Kielce, e o trabalho que lá realizou.
"Acabaram de nos mandar para uma fábrica onde eles faziam carroças, carrocerias de madeira para a frente oriental [da Guerra]. Naquela época eu tinha um trabalho e uma tarefa muito interessantes. A sensação era que, para trabalhar lá, era importante ter algo para fazer e eu não tinha nem 10 anos de idade [não podia fazer muito e corria o risco de ser morto]. Então, eu fui até ao comandante que era o comandante dos alemães daquele campo, e perguntei se ele precisava de um menino de recados. Ele olhou para mim e disse "Tudo bem". Então, basicamente, o meu trabalho naquele campo consistia em ficar sentado do lado de fora a fazer as tarefas que ele ordenasse, tais como pegar a bicicleta, ou levar algo de um lugar para o outro. Aquelas tarefas eram muito vantajosas porque eu podia ouvir o que estavam falar e, assim, podia contar aos outros [prisioneiros] e também avisar aquelas pessoas quando ele estava chegar de algum local, pois eu ia na sua frente, correndo, anunciando a sua chegada. Então, tínhamos [ele e os outros prisioneiros] combinado um sinal, e eu fazia-o. Ele usava um chapéu com uma pena e se eu fizesse assim para as pessoas [gestos imitando a pena] eles sabiam que ele estava a chegar, porque se as pessoas não estivessem a trabalhar quando ele chegasse, eram barbaramente espancadas
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5
Zigmond Adler
Os pais de Zigmond eram judeus tcheco-eslovacos que tinham emigrado para a Bélgica. A sua mãe, Rivka, era costureira especializada em camisas. Ela tinha ido para a Bélgica, muito jovem à procura de um emprego estável, seguindo o exemplo de seu irmão Jermie, que tinha-se mudado com a família para Liege, muitos anos antes. Em Liege, Rivka conheceu e casou-se com Otto Adler, um empresário, e ambos estavam ansiosos para aumentar a família.
Entre 1933-39: Zigmond nasceu em 1936, mas a sua mãe morreu um ano depois. O seu pai tornou a casar-se, mas esse casamento não durou muito tempo. Foi na terceira vez tentativa que ele conseguiu uma vida familiar estável, e logo Zigmond ganhou uma meia-irmã. Quando era criança, Zigmond visitava com frequência a família do seu tio Jermie, a qual vivia a poucas quadras de distância de sua casa.
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6
Renate Guttmann
Renate, o seu irmão gémeo, René, e os seus pais eram judeus de origem alemã que viviam na cidade de Praga. Pouco antes do nascimento dos gémeos, os seus pais tinham fugido de Dresden, na Alemanha, para escapar da perseguição do governo nazis contra os judeus. Antes de deixar a Alemanha para se refugiar na Tchecoslovaquia o pai de René e Renate, Herbert, trabalhava numa firma de importação e exportação, e a sua mãe, Ita, era contadora.
1933-39: A nossa família morava num prédio de seis andares junto à linha de bonde n°22, em Praga. Uma longa e íngreme escadaria conduzia ao nosso apartamento, onde o meu irmão e eu dividíamos um berço, no mesmo quarto onde estavam os nossos pais. Havia um pequeno terraço que permitia ver o pátio externo. René e eu usávamos trajes que combinavam e andávamos sempre bem vestidos. Passávamos a maior parte do dia a brincar num parquezinho próximo. Em março de 1939 as forças alemãs ocuparam Praga.
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7
Irene Hizme e
Rene Slotkin
Irene e seu irmão gémeo, René, tiveram originalmente os nomes de Renate e Rene Guttmann. A família mudou-se para Praga logo após o nascimento dos gémeos, e ainda lá moravam quando os alemães ocuparam a Boêmia e a Morávia [partes da atual República Checa] em março de 1939. Alguns meses depois, os alemães uniformizados prenderam o seu pai. Décadas mais tarde, Irene e René descobriram que ele foi assassinado no campo de Auschwitz, em dezembro de 1941. Irene, René e a sua mãe foram deportados para o gueto de Theresienstadt e, mais tarde, para o campo de Auschwitz.
Em Auschwitz, os gémeos foram separados e submetidos a cruéis "experiências médicas". Irene e René ainda permaneceram separados por algum tempo após a libertação de Auschwitz. O grupo "Rescue Children" (Crianças Resgatadas) levou Irene para os Estados Unidos em 1947, onde ela reencontrou-se com René em 1950.
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8
Tomas Kulka
Os pais de Tomas eram judeus. O seu pai, Robert Kulka, era um homem de negócios na cidade Olomouc, na Morávia; a sua mãe Elsa Skutezka, nascida na cidade de Brno, capital da região da Morávia, era modista de chapéus. O casal tinha um excelente nível intelectual e falava checo e alemão. Eles casaram-se em 1933 e instalaram-se na cidade natal de Robert, Olomouc.
1933-39: Tomas nasceu exatamente um ano e um dia após o casamento dos seus pais. Quando Tomas tinha 3 anos, o seu avô morreu e os Kulkas mudaram-se para Brno, cidade natal da sua mãe. Em 15 de março de 1939, poucas semanas antes do quinto aniversário de Tomas, os alemães ocuparam a Boêmia e a Morávia, incluindo Brno.
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9
Lidia Lebowitz
Lídia era a mais nova das duas filhas de um casal judeu que vivia em Sarospatak, uma cidade pequena no nordeste da Hungria. Os pais de Lídia possuíam uma loja de tecidos e miudezas bem sucedida. Naquele tempo, roupas prontas ainda eram raras no interior e na zona rural, e a população urbana e os fazendeiros locais compravam os tecidos para confeccionar as suas roupas na loja dos Lebowitz.
1933-39: Lídia tinha 2 anos quando a sua tia Sadie, que tinha emigrado para os Estados Unidos muitos anos antes, veio fazer uma visita com os seus dois filhos, Artur e Lilian. Todos os primos se divertiram muito a brincar juntos das fazenda dos seus avós. Vindo da América, o navio em que viajava a tia de Lídia aportou em Hamburgo, na Alemanha, e tia Sadie viu os nazistas marchando nas ruas, preocupada com o que poderia acontecer à sua família em Sarospatak.
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